terça-feira, 12 de maio de 2009

Recusas

To numa recusa de aceitar o que há...não dessas recusas de gênero, número e grau, em que o único sentido provém das notas que tenho na carteira ou de quantos bens eu já sou portadora, ou antes se já estou namorando um príncipe...tanto porque não acredito em príncipes.
A minha recusa advém do fato de eu não aceitar facilmente que a vida, pra mim verdadeira vida, que eu sonhava quando criança, e que sonho ainda continuamente por detrás de uma espessa névoa, seja substituída por essa, prática e manipuladora, servil e burocrática que acaba nos levando mais cedo, ou menos vividos, para o caixão. Eu não aceito.
Não quero me vangloriar pela quantidade de bens que possuo, isso não é uma conquista. É simplesmente ação e reação: eu trabalho, eu consigo comprar bens...onde há conquista nisso? Isso só faz com que as pessoas acordem de manhã, percam 40 a 60% do seu dia trabalhando, muitas vezes naquilo que nem se gosta. Bom...aí ele compra a casa, o carro, as roupas que sempre quis...E?
E nada...Não tem complementação. É só isso. A emoção de se conquistar o bem que se queria é proporcional a dificuldade de se obtê-lo...mas sendo grande ou pequeno, é uma emoção momentânea...passa com o tempo...o que faz com que continuamente a gente deseje sempre conseguir outro bem, maior ou melhor, novo sempre...e isso vira um círculo...trabalha = compra o que quer, trabalha um pouco mais = compra algo um pouco maior/melhor...e assim vai.
É...somos seres emotivos, nos movemos motivados por isso, por mais racional que se seja. Sempre as pessoas fazem algo esperando que aquilo as torne feliz, ou seja subsidio para que sejam felizes. Esperamos sempre que haja em algum momento do dia alguma sensação de contentamento, pra justificar o fato de estar de pé. O que nosso modo de vida fez foi simplesmente colocar essa emoção em bens materiais, porque é muito mais fácil e prático de se obter.
Pois é. É isso que eu não aceito...
Eu quero essa emoção quando o sol tocar minha pele e sentir que cada pedacinho do meu ser se esquenta com aquele calor...até chegar a alma. Quero essa emoção quando eu ouvir o sopro do vento e fechar os olhos tentando entender o que ele está tentando me dizer...quando esse mesmo vento passar por mim e por um breve momento me fazer esquecer o que quer que seja. Quero essa emoção quando cansada de uma subida apresente-me a vista um maravilhoso espetáculo de cores. Quero essa emoção quando cansada de todas as minhas dores a chuva vir lavar meu corpo. Quero essa emoção quando todos os meus sentidos se aguçarem na água gelada de uma cachoeira. Quero essa emoção no sorriso feliz de uma criança quando a brisa mexer com seus cabelos. Quero essa emoção nas disparidades de culturas e línguas de diferentes países que quero encontrar no que sonho ser um dia minha vida. Quero essa emoção na cumplicidade e lealdade de um amigo, na fraternidade e bem querer de uma família. Quero essa emoção num amor que tenha a calmaria de um mar sem ondas, e o desejo do mar em ressaca.
Não sei ainda quem eu sou...e talvez eu nunca venha a saber. Mas tenho a absoluta certeza do que não quero carregar.

Por Mayra

3 comentários:

  1. Eu também queria essas emoções... de verdade... deve ser a coisa mais gratificante e prazerosa vc sentir a felicidade nas pequenas coisas que a vida oferece... Mas infelizmente estamos em um mundo onde tudo gira em torno das conquistas materiais... e pessoas como você... como eu... como nós deveríamos tentar espalhar essa energia e pensamentos diferentes para uma vida melhor...

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  2. Você conseguiu sabiamente expressar o que realmente é importante na vida e as pessoas acabam não enxergando, pela busca insaciável por coisas materiais. Coisa vinda do próprio capitalismo e do seu modo de produção. Como as pessoas não estarem ligadas a busca por coisas materias? Se a sociedade é assim. Se o poder social o ser humano carrega no bolso, o dinheiro. O próprio sistema capitalista corrompe com o que é verdadeiramente válido. O capitalismo é materialista, a sociedade também.
    Mas o que importa é ter uma família feliz e unida, é ver as pessoas que você ama bem e viver momentos com elas. É sentir emoção nas pequenas coisas. E não trabalhar pra viver, como dizem.
    Sábio é aquele que não é tão racional assim.

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