quinta-feira, 21 de maio de 2009

Atemporal

O rotineiro caminho, o mesmo trem de sempre
O fastio ronda e por vezes afronta
Mas...de repente...o surreal perfuma a atmosfera...

São muitos vagões, infinitos vagões
Há acesso a todos os corredores
Segue seu itinerário
Paulatinamente mais veloz, um único sentido
Observa-se pela janela tudo voar
Desfigurado e desfocado de luzes
Quase impossível discernir o que se passa

Percebo que segue no destino contrário de onde devo chegar
Não há como descer
Não hesito, pelos corredores disparo trôpega
Corro no sentido contrário, não sei contra o quê
Ou quem está no sentido errôneo
Ele não pára, eu não paro, quase caio
Nada pára, nunca chega
No desespero tento segurá-lo
Nenhum recurso funciona.

Imagens e informações passadas despercebidas
Situações insaciadas, insatisfeitas
Nada vi, nem senti
De súbito páro de olhos perplexos
Não há fim, há solitude
Devagar, passos inseguros para trás
Com um giro retorno
Agora no sentido oposto ao inicial
Nem certo nem errado
Apenas no sentido do tempo
Respiro e rindo insisto em correr.
...Sentada...viajando...
...Nay...

Adiado


Esperaste por "aquilo" dito não correspondido, mas afirmo ser uma correspondência atrasada.
Não era ausente nem presente, apenas existente em potencial, mas agora bem real.
Na minha concepção o "agora" é tarde, ou talvez cedo. Não importa, não é conveniente.
Só prometa apartar de ti a impressão ou sensação de sentimento unilateral.
Agora é a minha vez...

...Nay...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Recusas

To numa recusa de aceitar o que há...não dessas recusas de gênero, número e grau, em que o único sentido provém das notas que tenho na carteira ou de quantos bens eu já sou portadora, ou antes se já estou namorando um príncipe...tanto porque não acredito em príncipes.
A minha recusa advém do fato de eu não aceitar facilmente que a vida, pra mim verdadeira vida, que eu sonhava quando criança, e que sonho ainda continuamente por detrás de uma espessa névoa, seja substituída por essa, prática e manipuladora, servil e burocrática que acaba nos levando mais cedo, ou menos vividos, para o caixão. Eu não aceito.
Não quero me vangloriar pela quantidade de bens que possuo, isso não é uma conquista. É simplesmente ação e reação: eu trabalho, eu consigo comprar bens...onde há conquista nisso? Isso só faz com que as pessoas acordem de manhã, percam 40 a 60% do seu dia trabalhando, muitas vezes naquilo que nem se gosta. Bom...aí ele compra a casa, o carro, as roupas que sempre quis...E?
E nada...Não tem complementação. É só isso. A emoção de se conquistar o bem que se queria é proporcional a dificuldade de se obtê-lo...mas sendo grande ou pequeno, é uma emoção momentânea...passa com o tempo...o que faz com que continuamente a gente deseje sempre conseguir outro bem, maior ou melhor, novo sempre...e isso vira um círculo...trabalha = compra o que quer, trabalha um pouco mais = compra algo um pouco maior/melhor...e assim vai.
É...somos seres emotivos, nos movemos motivados por isso, por mais racional que se seja. Sempre as pessoas fazem algo esperando que aquilo as torne feliz, ou seja subsidio para que sejam felizes. Esperamos sempre que haja em algum momento do dia alguma sensação de contentamento, pra justificar o fato de estar de pé. O que nosso modo de vida fez foi simplesmente colocar essa emoção em bens materiais, porque é muito mais fácil e prático de se obter.
Pois é. É isso que eu não aceito...
Eu quero essa emoção quando o sol tocar minha pele e sentir que cada pedacinho do meu ser se esquenta com aquele calor...até chegar a alma. Quero essa emoção quando eu ouvir o sopro do vento e fechar os olhos tentando entender o que ele está tentando me dizer...quando esse mesmo vento passar por mim e por um breve momento me fazer esquecer o que quer que seja. Quero essa emoção quando cansada de uma subida apresente-me a vista um maravilhoso espetáculo de cores. Quero essa emoção quando cansada de todas as minhas dores a chuva vir lavar meu corpo. Quero essa emoção quando todos os meus sentidos se aguçarem na água gelada de uma cachoeira. Quero essa emoção no sorriso feliz de uma criança quando a brisa mexer com seus cabelos. Quero essa emoção nas disparidades de culturas e línguas de diferentes países que quero encontrar no que sonho ser um dia minha vida. Quero essa emoção na cumplicidade e lealdade de um amigo, na fraternidade e bem querer de uma família. Quero essa emoção num amor que tenha a calmaria de um mar sem ondas, e o desejo do mar em ressaca.
Não sei ainda quem eu sou...e talvez eu nunca venha a saber. Mas tenho a absoluta certeza do que não quero carregar.

Por Mayra

sábado, 2 de maio de 2009

Parasita

Algumas bombas em cada mão
Cada bomba uma situação
Impossível contar quantas são
Em cada dedo um coração
As bombas parecem iminentes e urgentes
O desejo é para que sejam breves
Pois não há mais como suportar
Em demasia dói até se esquecer de respirar
Antes fosse fácil não lembrar
Mas não basta esquecer ou reprimir
Se involuntariamente se continua a sentir
E só de pensar no explodir
Um medo intenso insiste em agredir
Nada será suprimido, tampouco esquecido
Apenas mantido e não mais sentido

Algumas delas permanecem há dias, outras há meses e a maioria há anos.
As mais veementes sempre acompanharam.
Mas seria injusto afirmar que nada mudou, afinal, vieram outras para somatizar.
Acreditar que reprimi-las seria uma trégua para todos foi um equívoco;
Pois o tempo esqueceu-se de sua incumbência.

Difícil concluir porque se encontram aqui, se deliberadamente não há mais nada a ser feito.
Ainda mais que nunca pertenceram a este patamar.
Causam aversão e tamanha confusão.
Repudia-las seria interessante, mas isso seria negar a própria existência.
Todavia ainda se torna necessário explodi-las.

Não sei se restará algo de mim
Ou se algo a mais virei a ser
Então fico com a esperança e o medo se compensando
E enquanto não ocorre...

Implodindo...Implodindo...Implodindo...

...Nay...