Passado é algo longinguo, do qual você se arrepende ou não. Ou ambos. Passado pode ser aquela folha de rascunho do presente, ao qual você queria que fosse realmente somente uma folha de rascunho, ou pode ser aquela obra prima na qual você quer pendurar até mesmo na parede do futuro.
Passado foi passado pra trás, mas nunca numa velocidade suficiente que não permita que ele te alcance um dia e te faça encara-lo de frente. Passado não brinca de ser, ele foi. E por isso passado é algo que todo mundo quer passar pra trás.
Quando a gente se depara com esses ecos do passado é algo estranho. Tudo num instante está na sua normalidade, você com o que aprendeu, ele lá atrás. Aí ele aparece e te sorri (ou te fulmina com o olhar) e você se vê num jogo de palavras, num turbilhão de explicações, difamações, sonhos perdidos, sonhos conquistados, em que o único alvo é você.
Então você tenta limpar aquela mancha negra que tá ali no passado...pensa "já que ele tá aqui, vamos tentar ajeitar"...e você percebe que não limpa. Não importa o que faça...não limpa...porque aquilo tudo que você quer limpar não depende só de você...mas de todas as pessoas que ajudaram a fazer a mancha. E com elas você não pode contar..porque você só tem você.
Pior é quando você percebe que além do seu passado, há também as versões que as pessoas fizeram sobre o seu passado, seja por verem somente através da retina de outros olhos, seja para tornarem o próprio passado mais imaculado para os outros. Aí além do seu passado vindo a tona, vem de mãos dadas com ele o passado que alguém decidiu desenhar de você.
Só há uma coisa a se fazer...pegar o seu passado, abraça-lo, e agradecer pelo que ele te ensinou. E com o passado que fizeram pra ti? Bom...esse é só deixar de lado, porque ele com certeza alcançara a pessoa que o fez...Assim como já alcançou.
Engraçado pensar que, como uma pessoa que irá rodar os quatro cantos do mundo, como mochileira que sou, tem sua maior lição justamente aqui...num momento que foi tão pífio. Engraçado pensar que, justamente o momento mais dolorido pode ser também o que deu mais força. Nessa estrada que me puxa a frente é fácil sorrir ao perceber que carrego comigo a lição de que ninguém pode te derrubar, de não tomar pra mim menos do que mereço...e de principalmente jamais mudar uma vírgula do que sou, se isso desestruturar minha essencia, por ninguém.
Quem não acredita que a gente deixa de existir em algum momento, é porque nunca experimentou a hilariante sensação de ser puxado pra dentro de uma amarga insanidade...onde o senhor dos seus atos é quem está manipulando as cordas da marionete que você virou.
A Mayra deixou de existir durante uns oito meses. Mas cumpri meu papel e logo após cortei as cordas. Quando cai ao chão com o impacto de ter me soltado, demorei mais uns dois meses pra juntar tudo e encaixar da forma que eu lembrava que eu era...E eu sei que uma parte eu deixei ali jogada no chão...e fiz isso pra que nunca mais pudesse voltar a ser sugada pra dentro de mim.
Quando se encontra com o passado só há duas coisas a se fazer, chorar ou sorrir...independente do que ele te traga. Eu escolhi sorrir para esse que veio me visitar...porque apesar dele ter o gosto amargo da estupidez humana, ele também tem o gosto doce da superação.
Hoje eu sou a Mayra que era antes daqueles oito meses, com uma parte a menos, e a Mayra que aprendeu uma lição. Hoje eu sou a Mayra que se reconstruiu e a Mayra que se permitiu reconstruir melhor. E pro passado que veio me visitar é isso que mostro.
Agora?
Sigo em frente....porque na estrada lá na frente tá fazendo um sol lindo.
Por Mayra